Uso de análogo do GnRH na puberdade de início aos sete anos não traz benefício para meninas...

Análogos do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH, do inglês Gonadotropin-Releasing Hormone) para bloquear a puberdade em meninas que apresentam maturação precoce têm sido usados com frequência.
No entanto, a revisão sistemática com metanálise publicada em dezembro no periódico European Journal of Endocrionology [1]mostrou que não há evidências que corroborem essa prática. Ao contrário, o estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP) revelou que o tratamento não aumenta a altura final na vida adulta. A médica endocrinologista Vania Nogueira, pesquisadora da UNESP e autora do trabalho, falou ao Medscape sobre os resultados da pesquisa.
A Dra. Vania Nogueira lembrou que, em síntese, na maioria das vezes, se considera puberdade normal nas meninas quando o início ocorre a partir dos oito anos de idade e, nos meninos, a partir dos nove anos. No sexo feminino, a primeira etapa é o aparecimento do broto mamário, seguido do surgimento dos pelos pubianos e axilares cerca de um ano e meio depois. A menstruação costuma ocorrer aproximadamente dois anos após o surgimento da mama.
Na sua revisão sistemática, a equipe paulista incluiu trabalhos que avaliaram meninas com início da puberdade entre sete e dez anos de idade. "É, portanto, um intervalo no limite inferior da faixa considerada normal – chamamos de variação da normalidade, ou seja, a puberdade inicia um pouco antes, porém não se trata de uma questão patológica. Esse quadro vem sendo chamado na literatura de early puberty ou maturação precoce", disse a médica.
A maturação precoce é diferente da puberdade precoce. Nesta, a puberdade inicia entre quatro e seis anos de idade, sendo considerada uma questão patológica. Mas, embora a maturação precoce não esteja associada à patologia, a médica afirmou que frequentemente os pais chegam preocupados ao consultório.
"Hoje em dia, tem sido muito comum as mães e os pais quererem postergar a puberdade das meninas, pois ficam com medo de elas menstruarem muito cedo e, com isso, terem redução da altura", contou.
De fato, o uso de análogos do GnRH vem sendo empregado de rotina para os pacientes com maturação precoce. A revisão feita pelo grupo da UNESP nos bancos de dados MEDLINEEMBASELILACS e CENTRAL resultou na inclusão de seis estudos: dois randomizados, [2,3] três não randomizados prospectivos controlados [4,6] e um observacional controlado [7]. Os estudos utilizaram triptorrelina intramuscular a cada 28 dias por cerca de dois anos para as meninas que iniciaram a puberdade entre sete e dez anos de idade. Todos os trabalhos tiveram grupos de controle, no quais não foi feita nenhuma intervenção terapêutica. No total, os trabalhos tiveram a participação de 332 meninas.
A metanálise da altura final na vida adulta entre os seis estudos não encontrou diferença significativa entre as participantes que foram submetidas ao bloqueio da puberdade e as que não sofreram intervenção (diferença média = 0,50 cm, intervalo de confiança de 95%, de - 0,72 a 1,73 cm, I2 = 0%). A análise de subgrupo com a altura adulta prevista também não revelou diferença na média de altura entre os grupos.
Para a Dra. Vania, a unanimidade dos resultados dos estudos analisados foi surpreendente: "quando fazemos uma revisão sistemática, esperamos que um estudo mostre um valor, outro revele valor um pouco diferente e, no final, seja possível fazer uma análise a respeito da direção que a metanálise tomou. No entanto, nenhum estudo mostrou que o grupo bloqueado teve altura final diferente do grupo não bloqueado", comentou.
Segundo a pesquisadora, o uso dos análogos do GnRH mesmo sem evidências acerca de seu benefício nos casos de maturação precoce é uma prática comum devida, principalmente, a medo, insegurança e, às vezes, desconhecimento.
"Acredito que o que é normal deve ser tratado como normal. Na maioria das meninas com esse quadro, o tempo médio transcorrido entre o início da puberdade e a menstruação é de três a quatro anos, representando, portanto, evolução normal e que não necessita de bloqueio. Merecem ser avaliadas quanto à possibilidade de tratamento aquelas que iniciam com sete, oito anos de idade, mas que têm uma puberdade rapidamente progressiva, o que felizmente não acontece com a maioria", concluiu.
Até mais.
Fonte: Uso de análogo do GnRH na puberdade de início aos sete anos não traz benefício para meninas - Medscape - 24 de dezembro de 2018.

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