Bebidas dietéticas não aumentam o consumo calórico e ajudam a controlar a compulsão...

Uma nova pesquisa indica que pessoas que ingerem refrigerante dietético não compensam comendo mais calorias, e, além disso, essas bebidas podem de fato ajudar a controlar a compulsão alimentar.
Os achados vêm de dois estudos apresentados no European Congress on Obesity (ECO) 2017 durante um simpósio patrocinado pela International Sweeteners Association.
Há preocupações de que o uso de bebidas adocicadas de baixa caloria aumente o consumo de alimentos ao corromper as respostas ao sabor doce e a resposta "condicionada" à saciedade, disse o Dr. Marc Fantino, do centro de pesquisa CreaBio Rhone-AlpeLyon-Givors Hospital Center (França).
Ele apresentou um estudo randomizado controlado mostrando que sujeitos que consumiram bebidas dietéticas (e que nunca as haviam utilizado previamente) não comeram mais do que aqueles que beberam água. E Charlotte A. Hardman, da University of Liverpool (Reino Unido), apresentou dados preliminares que indicam que bebidas dietéticas podem ajudar as pessoas a controlarem a compulsão por açúcar.
Os resultados em geral acrescentam aos dados que indicam que bebidas adocicadas de baixa caloria são uma opção para algumas pessoas tentarem reduzir o consumo de calorias e controlar o próprio peso, dizem os especialistas.
E, apesar de muitas histórias negativas na imprensa indicando o dano causado por essas bebidas, as evidências científicas indicam o contrário, acreditam eles.
"Toda a evidência de dano é de estudos em animais ou epidemiológicos/de correlação", disse Richard Black, da Quadrant Consulting, West Harrison, Nova York. "Quando você realiza um estudo intervencionista bem controlado com as bebidas dietéticas, os achados são neutros ou benéficos", disse ele ao Medscape.
"Refrigerantes dietéticos não levam a uma dieta mais saudável, mas podem ajudar a minimizar ou evitar o consumo de produtos não saudáveis. Isso é uma grande vitória", acrescentou o Dr. Black.
O Dr. John L. Sievenpiper, do St Michael's Hospital, Toronto (Canadá), um médico bioquímico que conduziu diversos estudos nessa área, disse: "Nosso padrão-ouro preferido para beber é a água. Isso é o que defendemos. Mas é preciso reconhecer que isso não vai funcionar para todos, não vai se encaixar nos valores e preferências de todos".
Por sua vez, o Dr. Paolo Sbraccia, um médico internista que trata muitos pacientes com obesidade e diabetes, mas que não esteve envolvido em nenhum dos estudos com bebidas dietéticas, disse ao Medscape acreditar que elas poderiam ser mais úteis para a geração mais jovem.
"Bebidas dietéticas podem ter um papel em relação às crianças. Mas duvido que ajudarão muito os adultos obesos", observou. No entanto, ele não demonstra preocupação sobre a segurança desse tipo de produto: "De modo geral, não estou preocupado com danos".

Bebidas dietéticas como opção viável

O Dr. Fantino apresentou seu estudo no qual 80 mulheres e 86 homens que não haviam consumido previamente bebidas dietéticas foram randomizados para ingerir bebidas adocicadas de baixa caloria ou água, e foram liberados para comer o tanto que desejassem.
"O consumo diário de bebida adocicada com adoçantes de baixa caloria (660 ml/dia) por quatro semanas por homens e mulheres saudáveis com peso normal que não eram consumidores regulares de adoçantes não promoveu a seleção e o consumo de mais alimentos doces", nem o aumento do consumo de calorias, relatou.
Os resultados estão alinhados com conclusões de um estudo publicado por Rogers et al no último ano (Int J Obes [Lond]. 2016;40:381-394), disse o Dr. Fantino.
Essa revisão sistemática concluiu que "a preponderância de evidência de todos os ensaios controlados randomizados em humanos indica que o consumo de adoçantes de baixa caloria não aumenta o consumo energético ou o peso corporal, se comparado com condições controle calóricas ou não calóricas (por exemplo, água)".
Esses dados devem tranquilizar médicos e consumidores, disse Charlotte, que é psicóloga, e que observou que as notícias negativas sobre possíveis danos das bebidas dietéticas têm um impacto.
"Se a mensagem puder se tornar benéfica, isso afasta um pouco as histórias negativas", observou ela.
Ela alerta, no entanto, que "bebidas dietéticas podem ajudar na perda de peso, mas não são uma solução para todos. Para aqueles que não gostam de alimentos com sabor doce, as bebidas adocicadas de baixa caloria não serão úteis. Depende da preferência individual".
O Dr. Sievenpiper concorda. Ele disse ao Medscape: "Bebidas dietéticas são uma opção viável, então não vamos retirá-las do cardápio".
O Dr. Black disse: "Algumas pessoas utilizam uma bebida dietética como uma ferramenta para satisfazer compulsões. Isso não vai levar à perda de peso por si só, mas pode ser usado para apoiar os esforços dessas pessoas para perder peso".
No entanto, todos os especialistas no Porto disseram que, embora estejam confiantes de que isso se aplica às bebidas dietéticas, a questão se torna muito mais complexa quando se trata de alimentos sólidos contendo adoçantes, portanto eles não extrapolariam nenhuma de suas conclusões para esses produtos.

E quanto aos efeitos dos adoçantes sobre o microbioma intestinal?

Também indagado sobre sua opinião quanto a um artigo da Nature de alguns anos atrás que sugeriu que adoçantes artificiais poderiam alterar de forma desfavorável o microbioma intestinal, levando a resistência insulínica (Nature. 2014;514:181-186), o Dr. Sievenpiper disse: "Esse artigo teve diversas questões e é geralmente deturpado. Suez et al avaliaram a sucralose, aspartame e sacarina, mas pesquisaram apenas a sacarina ("como um protótipo de adoçante artificial") em humanos, com o consumo diário máximo aceito pela FDA (5mg/kg de peso corporal/dia, o que é equivalente a 45 sachês de mesa)".
Além disso, a pesquisa não foi controlada (isto é, não houve grupo recebendo placebo com o qual comparar o efeito da sacarina); na verdade, foi simplesmente um estudo de "antes e depois".
E "para mostrar um efeito, eles também precisaram dividir o número muito pequeno de sujeitos (n=7) em respondedores (quatro de sete) e não respondedores (três de sete), mostrando um efeito apenas nos 'respondedores'. Essa abordagem é altamente duvidosa, especialmente em um estudo de desenho já fraco".
As conclusões são portanto "extremamente especulativas", disse ele, e extrapolá-las para todos os adoçantes de baixa caloria "é um salto gigantesco de inferência". Esses adoçantes são "um grupo heterogêneo de componentes que são manipulados pelo organismo de forma diferente em termos de absorção, metabolismo, distribuição e excreção".
Esse estudo "claramente precisa de replicação em um ensaio randomizado controlado usando doses do 'mundo real' (e não o consumo diário aceitável máximo) e adoçantes que são realmente usados em bebidas (como aspartame, sucralose e acessulfame K)", observou.
Na verdade, o grupo do Dr. Sievenpiper foi recentemente financiado pelos Canadian Institutes of Health Research para conduzir esse ensaio, concluiu ele.
O Dr. Fantino e Charlotte são consultores da International Sweeteners Association. O Dr. Sievenpiper relata taxas ou honorários para palestras de PepsiCoDr. Pepper Snapple Group, e International Sweeteners Association, consultoria ad hoc para Tate and Lyle, e fundos de pesquisa do Calorie Control Council. O Dr. Black e Dr. Sbraccia não relataram conflitos de interesse relacionados à indústria de bebidas ou adoçantes.
European Congress on Obesity 2017. 19 de maio de 2017; Porto, Portugal. Symposium of International Sweeteners Association.
Até mais.
Fonte: Medscape.com

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