É possível distinguir uma infecção viral de uma infecção bacteriana em criança febril?...

As características clínicas não distinguem com segurança entre infecção bacteriana ou viral, com isso, muitas crianças em todo o mundo recebem tratamento desnecessário com antibióticos, enquanto outras com infecção bacteriana não são tratadas.
Com o objetivo de identificar, no sangue, uma assinatura de expressão de RNA capaz de distinguir uma infecção bacteriana de uma viral, em crianças febris, foi realizado um trabalho publicado pelo The Journal of the American Medical Association (JAMA).
Crianças febris que se apresentavam aos hospitais participantes do estudo no Reino Unido, Espanha, Holanda e Estados Unidos, entre 2009 e 2013, foram prospectivamente recrutadas, compreendendo um grupo de descoberta e outro de validação. Cada grupo foi classificado após investigação microbiológica como tendo infecção bacteriana definitiva, infecção viral definitiva ou infecção indeterminada. Assinaturas de expressão de RNA que distinguiam infecção bacteriana definitiva de infecção viral foram identificadas no grupo de descoberta e a performance diagnóstica foi avaliada no grupo de validação. Validação adicional foi realizada em estudos separados de crianças com doença meningocócica (n=24) e doenças inflamatórias (n=48) e em conjuntos de dados de expressão genética já publicados.
A assinatura de expressão de RNA que distinguia infecção bacteriana da infecção viral foi avaliada levando-se em consideração o diagnóstico clínico e microbiológico.
As infecções bacterianas e virais definitivas foram confirmadas por cultura ou detecção molecular dos patógenos. O desempenho da assinatura de expressão do RNA foi avaliado no grupo de infecção bacteriana, de infecção viral e também no grupo de infecção indeterminada.
O grupo de descoberta com 240 crianças (idade média, 19 meses; 62% do sexo masculino) incluiu 52 crianças com infecção bacteriana definida, das quais 36 (69%) necessitaram de cuidados intensivos e 92 crianças com infecção viral definida, das quais 32 (35%) necessitaram de cuidados intensivos. Noventa e seis crianças tiveram infecção indeterminada.
Análise dos dados de expressão de RNA identificou 38 assinaturas de transcrição distinguindo infecção bacteriana de infecção viral. Uma assinatura menor (2 transcrições - FAM89A e IFI44L) foi identificada através da remoção de transcrições altamente correlacionadas. Quando esta assinatura menor foi implementada como um escore de risco da doença no grupo de validação (130 crianças, com 23 infecções bacterianas definidas, 28 infecções virais definidas e 79 indeterminadas; idade média de 17 meses, 57% do sexo masculino), todos os 23 pacientes com infecção bacteriana definida microbiologicamente confirmada foram classificados como com infecção por bactérias (sensibilidade 100% [IC 95%, 100% a 100%]) e 27 de 28 pacientes com infecção viral definida foram classificados como infecção por vírus (especificidade 96,4% [IC 95%, 89,3%-100%]).
Quando foi aplicada aos conjuntos de dados de validação adicional de pacientes com doenças meningocócica e inflamatória, a infecção bacteriana foi identificada com uma sensibilidade de 91,7% (IC 95%, 79,2%-100%) e 90% (IC 95%, 70%-100%), respectivamente, e com uma especificidade de 96% (IC 95%, 88%-100%) e 95,8% (IC 95%, 89,6%-100%). Das crianças nos grupos indeterminados, 46,3% (63/136) foram classificadas como tendo infecção bacteriana, embora 94,9% (129/136) tenham recebido tratamento com antibiótico.
Este estudo fornece dados preliminares sobre a precisão do teste de uma assinatura de 2 transcrições de RNA para discriminar infecção bacteriana da viral em crianças febris. Mais estudos são necessários em grupos de pacientes diversos para avaliar a precisão e a utilidade clínica deste teste em diferentes ambientes clínicos.

Até mais.

Fonte:  NEWS.MED.BR, 2016. JAMA: é possível distinguir uma infecção viral de uma infecção bacteriana em criança febril?. Disponível em: . Acesso em: 2 set. 2016.

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