Desvalorização médica...

Em matéria de hoje no Jornal Atribuna a relatos de comparativos entre ganhos médicos. Quem filma um parto ganha mais do que quem o realiza. Não que o fotógrafo não mereça essa remuneração mas o médico Obstétra é que deveria ser melhor valorizado. Leiam abaixo a matéria.
Trazer uma vida ao mundo é um desafio inigualável. O responsável por tal feito vive um misto de emoção e preocupação pela vida da mãe e do bebê. Em um momento como esse, um obstetra, logo após concluir o parto, olhou para o profissional que, com uma câmera filmadora na mão, o acompanhou a cada passo. Já relaxado e com uma curiosidade momentânea, o médico aproveitou a oportunidade e perguntou: Quanto custa essa filmagem? Com a resposta, um susto: era mais caro filmar do que fazer o parto. A filmagem em questão ficou em torno de R$ 800,00. Pesquisando valores com empresas e profissionais liberais, é possível achar preços mais baixos, algo em torno de R$ 600,00 e R$ 500,00. Encontra-se até por R$ 400,00. Mesmo assim, o valor fica bem acima dos cerca de R$ 170,00 pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para um parto ­ natural, por que se for cesárea, o médico recebe R$150,00. A realidade dos pagamentos efetuados pelos planos de saúde é um pouco melhor ­ mas ainda não chega no custo da filmagem. Segundo tabela fornecida pela direção regional da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), a Unimed Santos paga para o médico que faz um parto natural R$ 257,34 e, por uma cesariana, R$ 205,87. Mas a assessoria de imprensa da Unimed Santos afirma que, independente do tipo de plano, a cooperativa paga R$ 446,00 por uma cesárea. Se o médico acompanhar os nove meses do pré-natal e participar do programa de incentivo fazendo parto natural, recebe R$ 1.000,00. A assessoria não quis informar o valor pago pelo parto natural quando não há o acompanhamento durante toda a gestação. A Reportagem entrou em contato com outros planos de saúde para obter informações de valores. A assessoria de imprensa do BeneSaúde disse que eles não fornecem dados sobre pagamentos, porque essa é uma relação exclusiva entre o plano de saúde e o médico. A Mediservice declarou que não informa números e pediu que fosse feito contato com a Fenasaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) para obter essa informação. A federação, por sua vez, afirmou que ela não cuida de valores, o que é competência individual de cada empresa.
CAMPANHA
Para tentar mudar essa realidade, a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo realiza uma campanha nacional reivindicando aumento nos pagamentos, considerando a responsabilidade que o trabalho envolve. "Nós temos entrado em contato com todas as empresas para propor aumento de honorários. Essa ação é em prol até de melhorias para o paciente. Para cobrir seus gastos o médico tem que fazer diversos atendimentos, ficando sobrecarregado", informa a diretora da Comissão de Defesa Profissional e Honorários Médicos da Sogesp, Maria Rita de Souza Mesquita. Com representantes em várias cidades do Estado, a entidade já fez contato com cerca de 40 empresas de saúde. A campanha da entidade conta com anúncios, cartazes e veiculações em rádios. Segundo Maria Rita, o objetivo é mostrar para a população que os médicos são os menos ressarcidos, apesar de serem os principais responsáveis pelo atendimento adequado do paciente. A ideia de fazer esse movimento surgiu depois de levantamentos constatando que alguns planos de saúde pagam honorários extremamente baixos para o parto. "Esse valor fica em torno de R$ 200,00", diz a diretora. Maria Rita ressalta que a intenção não é aumentar o valor do plano de saúde para o usuário, mas realizar uma divisão melhor de valores. Receber valores abaixo do que ganham outros profissionais não é exclusividade dos obstetras.Essa situaçãose repete com outras especialidades e em vários procedimentos clínicos e hospitalares. "Pesquisa feita pela Fipe calculando quanto o médico recebe por consulta concluiu que, descontando custos com consultório e luz, entre outros, a média de pagamento é de R$ 4,00", afirma a diretora da Sogesp, Maria Rita. O diretor clínico da Santa Casa da Misericórdia de Santos, José Luiz Camargo Barbosa, cita como exemplo de baixa remuneração o valor pago por um plantão médico de 12 horas R$ 700,00, que, com os descontos, fica em torno de R$ 500,00. "Dizem que os hospitais contratam mão de obra barata para o plantão. A questão é que pagam o mesmo valor para um profissional que tem seis meses ou 30 anos de experiência. E um médico experiente não quer. Só quem deu plantão tem ideia do que é; muita tensão, muita cobrança", afirma, com a experiência de quem trabalha no hospital há 57 anos e fez plantão por 27. A quem argumenta que o valor de R$700,00 não é tão baixo para um plantão de 12 horas, Barbosa apresenta o recibo de R$ 650,00 pago a uma firma para desentupir a pia de sua casa. "Não levaram 10minutos". O pagamento de procedimentos também é questionado. O diretor técnico da Santa Casa, Marcos Calvo, ressalta que os custos crescem, mas o SUS não aumenta a remuneração. Ele aponta como exemplo a biópsia de próstata: "o SUS paga R$ 92,38 pelo procedimento, mas só a agulha custa R$ 188". Segundo ele, a Anvisa determinou que a agulha não poderia mais ser esterilizada para reaproveitamento. Tinha que usar uma nova a cada procedimento ­ criou uma exigência, mas não mudou o valor. "Para um tratamento de pneumonia, por exemplo, com previsão de quatro dias de internação, o médico ganha R$ 26,72 e o hospital recebe R$ 422,15. Nós damos cinco refeições, roupa esterilizada, enfermagem e, se o caso complicar e o paciente precisar ficar mais tempo, não há pagamento de diferença de valores", explica Calvo. Os diretores explicam que fica difícil para o hospital custear as diferenças. Para Barbosa, a saída seria o Governo subsidiar uma parte.
Até mais.
Fonte: Atribuna 14/03/11

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