Obesidade é associada à gravidade de Covid-19, especialmente abaixo dos 60 anos...

Está cada vez mais claro que a obesidade é um dos maiores fatores de risco de Covid-19 (sigla do inglês, Coronavirus Disease 2019) grave, particularmente entre pessoas jovens.
Dados recém-publicados mostram que, dentre aqueles com menos de 60 anos, a obesidade dobrou a chance de hospitalização por Covid-19, e também aumentou significativamente a probabilidade de o paciente precisar de cuidados intensivos.
"A obesidade em pessoas com menos de 60 anos parece ser um fator de risco previamente não reconhecido para admissão hospitalar e necessidade de cuidados intensivos. Isso tem implicações importantes e práticas, visto que quase 40% dos adultos nos Estados Unidos são obesos, com um índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m2", escreveu a Dra. Jennifer Lighter, NYU School of Medicine/NYU Langone Health, e colaboradores, em sua correspondência de pesquisa publicada on-line em 09 de abril no periódico Clinical Infectious Diseases.
Achados semelhantes em uma publicação em preparo, que ainda precisa ser revisada por pares, de outro hospital em Nova York, mostram que, com a exceção da idade, a obesidade (IMC > 40 kg/m2) tem a maior associação com hospitalização por Covid-19, aumentando o risco em mais de seis vezes.
Além disso, um novo estudo francês mostrou uma alta frequência de obesidade entre pacientes admitidos em uma unidade de terapia intensiva por Covid-19. Além disso, a gravidade da doença aumentou com o aumento do IMC.
Um dos autores disse ao Medscape que muitos dos pacientes eram jovens, tendo a obesidade como único fator de risco.
"Pacientes com obesidade deveriam evitar qualquer contaminação por Covid-19 ao reforçar todas as medidas de prevenção durante a atual epidemia", disseram os autores, liderados pelo Dr. Arthur Simonnet, médico no Centre Hospitalier Universitaire de Lille, na França.
Eles também destacaram que os pacientes com Covid-19 "com obesidade grave deveriam ser monitorados mais de perto".
Obesos jovens e ficam graves rapidamente
Coautor do artigo francês publicado on-line em 09 de abril no periódico Obesity, o Dr. François Pattou disse ao Medscape que quando pacientes com Covid-19 começaram a chegar na unidade de terapia intensiva (UTI) em Lille, eles eram pacientes jovens sem outras comorbidades.
"Eles eram apenas obesos", ele observou, acrescentando que pareciam "ter uma doença muito específica, de certa forma diferente" do que era visto antes, com os pacientes ficando muito graves muito depressa.
Em seu estudo, os autores examinaram 124 pacientes consecutivos admitidos na UTI com Covid-19 entre 25 de fevereiro e 05 de abril de 2020, e os compararam com um grupo de controle histórico de 306 pacientes admitidos na UTI do mesmo hospital por doença respiratória aguda grave não relacionada com a Covid-19 em 2019.
Até 06 de abril, 60 pacientes com Covid-19 haviam recebido alta da terapia intensiva, 18 haviam falecido e 46 permaneciam na unidade. A maioria (73%) era do sexo masculino, e a mediana de idade foi de 60 anos.
A obesidade e a obesidade grave foram significativamente mais prevalentes entre pacientes com Covid-19, ocorrendo em 47,6% e 28,2% versus 25,2% e 10,8% nos controles históricos (P < 0,001 para a tendência).
Um achado-chave foi que aqueles com IMC > 35 kg/m2 tiveram risco de precisar de ventilação mecânica (razão de chances ou odds ratio, OR, de 7,36; P = 0,021) mais de sete vezes maior do que aqueles com IMC < 25 kg/m2, mesmo após ajuste para idade, diabetes e hipertensão.
Obesidade em pessoas com menos de 60 anos no mínimo dobra o risco de internação nos EUA
Os estudos de Nova York, um dos quais foi estratificado por idade, pintam um quadro semelhante.
A Dra. Jennifer e colaboradores descobriram que dos 3.615 indivíduos que testaram positivo para Covid-19 em sua série, 775 (21%) tinham IMC de 30 kg/m2 a 34 kg/m2 e 595 (16%) tinham IMC ≥ 35 kg/m2.
A obesidade não foi um preditor de admissão no hospital ou na UTI entre maiores de 60 anos, mas sim entre os mais jovens que 60 anos.
Menores de 60 anos com IMC de 30 kg/m2 a 34 kg/m2 tiveram o dobro de chances de serem internados no hospital (razão de risco ou hazard ratio, HR, de 2,0; P < 0,0001) e na UTI (HR de 1,8; P = 0,006) versus menores de 60 anos com IMC de 30 kg/m2.
De forma semelhante, menores de 60 anos com IMC ≥ 35 kg/m2 tiveram chances 2,2 (P < 0,0001) e 3,6 (P < 0,0001) vezes maiores de serem admitidos para tratamento agudo e intensivo.
"Infelizmente, a obesidade em pessoas com menos de 60 anos é um novo fator de risco epidemiológico, que pode contribuir para aumentar as taxas de mortalidade por Covid-19 nos Estados Unidos", eles concluíram.
E, no outro estudo norte-americano, o Dr. Christopher M. Petrilli, médico do NYU Grossman School of Medicine, e colaboradores avaliaram 4.130 pacientes com Covid-19 tratados entre 1º de março e 02 de abril de 2020, e acompanhados até 07 de abril.
Pouco menos de metade dos pacientes (48,7%) foram hospitalizados, dos quais 22,3% necessitaram de ventilação mecânica e 14,6% evoluíram para óbito ou foram colocados em cuidados paliativos. Essa pesquisa foi publicada em 11 de abril no periódico medRxiv.
Isso mostra que, além da idade, os preditores de hospitalização mais fortes foram IMC > 40 kg/m2 (razão de chances ou odds ratio, OR, de 6,2) e insuficiência cardíaca (OR de 4,3).
"É notável que a doença crônica com maior associação com adoecimento crítico tenha sido a obesidade, com uma razão de chances substancialmente maior do que qualquer doença cardiovascular ou pulmonar", eles observaram.
A inflamação é a culpada?
O Dr. François acredita que o culpado por trás do aumento do risco de gravidade da doença observado com a obesidade na Covid-19 é a inflamação, mediada por depósitos de fibrina na circulação, a qual seus colaboradores observaram em autópsias e que "bloqueia a passagem de oxigênio pelo sangue".
Isso pode ajudar a explicar por que a ventilação mecânica tem menos sucesso nesses pacientes.
"A resposta é se livrar dessa inflamação", observou o Dr. François.
Dr. Christopher e colaboradores também observaram que a obesidade "é bem reconhecida como uma doença pró-inflamatória".
E os achados deles mostram "a importância de marcadores inflamatórios na distinção de futuros adoecimentos críticos para os não críticos", disseram, observando que, dentre esses marcadores, elevações precoces na proteína C reativa e no D-dímero "tiveram a associação mais forte com ventilação mecânica e mortalidade".
O Dr. Livio Luzi, do IRCCS MultiMedica, na Itália, já havia escrito sobre a relação entre influenza e a obesidade, e discutido com o Medscape as possíveis lições para a pandemia de Covid-19.
"A obesidade é caracterizada por um prejuízo da resposta imunológica e por uma inflamação crônica de baixo grau. Além disso, indivíduos obesos possuem uma dinâmica de ventilação pulmonar alterada, com excursão diafragmática reduzida", disse o Dr. Livio.
Esses fatores junto com outros "podem ajudar a explicar" os atuais resultados, e destacam a importância do monitoramento atento daqueles com obesidade e Covid-19, ele concluiu.
Fonte: 
Clin Infect Dis. Publicado on-line em 09 de abril de 2020. Correspondência
medRxiv. Publicado on-line em 11 de abril de 2020. Texto completo
Obesity. Publicado on-line em 09 de abril de 2020. Texto completo


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