Poucos medicamentos foram aprovados para tratar adolescentes obesos, mas isso está prestes a mudar, e o próximo passo será testar dispositivos endoscópicos nos adolescentes, previram dois especialistas na American Diabetes Association (ADA) 2019 Scientific Sessions.
"Eu acho que existe espaço para medicar a obesidade nos adolescentes", mas as opções atuais continuam "limitadas", resumiu para o Medscape o Dr. Daniel S. Hsia, médico do Pennington Biomedical Research Center, em Baton Rouge, Louisiana,após sua apresentação no congresso.
O médico explicou que só o orlistate e a fentermina foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) norte-americana para o tratamento de adolescentes com obesidade, enquanto nove medicamentos foram aprovados para a perda ponderal de adultos.
"Acredito que a utilização sem a aprovação regulatória vá continuar até que tenhamos mais dados sobre crianças e adolescentes, e até termos aprovações pela FDA de medicamentos para tratar a obesidade dos adolescentes", disse o Dr. Daniel.
No entanto, "há esperança no horizonte", acrescentou o pesquisador, "para os grupos específicos de jovens obesos que precisam de tratamento médico e que podem não se encaixar bem na cirurgia bariátrica ou não ter benefícios com as modificações do estilo de vida".
"Os resultados do estudo da liraglutida na adolescência provavelmente estarão disponíveis no início do ano que vem", espera o Dr. Daniel. "Este provavelmente será o próximo medicamento" a ser aprovado para tratar os adolescentes obesos, disse o médico.
Um ensaio clínico controlado e randomizado com lorcaserina para adolescentes obesos está em andamento e ainda está aberto para recrutamento, observou, e existe um ensaio clínico de fase 4 que está apenas começando com a associação de fentermina/topiramato.
Durante a mesma sessão, o Dr. Andrew C. Storm, médico da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, resumiu o número cada vez maior de dispositivos endoscópicos para a perda ponderal, aprovados ou em fase de testes.
As aprovações têm acontecido "nos últimos três a quatro anos, e existem de três a cinco ensaios clínicos para aprovação da FDA para adultos em andamento ou previstos para começar neste verão (no hemisfério norte), de modo que espero ver – se não este ano, então, definitivamente, em um ou dois anos – um grande número de tratamentos endoscópicos disponíveis para obesidade e doença metabólica", disse o médico ao Medscape.
"É bem claro que a obesidade desde a infância leva à obesidade na idade adulta", acrescentou Dr. Andrew. "Dado que estes dispositivos são tão seguros e têm este impacto inicial razoável na obesidade, eu acho que o próximo passo será estudá-los em adultos jovens."
"É muito emocionante, porque existem tratamentos novos e em fase de pesquisa no campo do tratamento da obesidade dos adolescentes", disse ao Medscape a diretora da sessão, Dra. Amy E. Rothberg, Ph.D., médica da University of Michigan, em Ann Arbor.
"Isso vai reconfigurar a paisagem e os profissionais de saúde ficarão mais confortáveis ao prescrever estes tratamentos", previu a médica.
"Fique atento, mas haverá provavelmente o dobro do que dispomos em termos de farmacoterapia de combinação" para o tratamento dos adolescentes, disse a diretora da sessão.
Indagada se isso vai ter algum impacto na prevalência da obesidade entre os jovens, a Dra. Amy respondeu: "Eu sou otimista, então certamente espero que sim."
Diretrizes da Endocrine Society publicadas em 2017 (J Clin Endocrinol Metab. 2017;102:709-757) especificaram que a farmacoterapia com medicamentos aprovados pela FDA pode ser sugerida para os adolescentes obesos se o programa formal de modificação de estilo de vida não conseguir limitar o ganho de peso ou melhorar as comorbidades, indicou o Dr. Daniel.
As diretrizes também orientam a suspender o tratamento se o paciente não conseguir reduzir mais que 4% do índice de massa corporal (IMC)/pontuação z do IMC em 12 semanas.
O orlistate é o único medicamento aprovado pela FDA para uso prolongado em adolescentes com ≥ 12 anos de idade, e está associado a uma redução de 0,7 kg/m2 a 1,7 kg/m2 do IMC. No entanto, devido aos efeitos colaterais de urgência e incontinência fecal, e às fezes gordurosas ou oleosas, seu uso clínico é limitado nesta faixa etária.
A fentermina, que suprime o apetite, foi aprovada pelo FDA para 12 semanas ou menos de tratamento em pacientes ≥ 16 anos de idade. No entanto, pode causar aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, e não existem dados de segurança e eficácia suficientes para os adolescentes.
O arsenal contra a obesidade de adultos contém quatro medicamentos aprovados em 1950 para uso em curto prazo, e o mais comum, que é a fentermina, explicou o Dr. Daniel.
Mais recentemente, de 1999 a 2014, a FDA aprovou cinco medicamentos de uso prolongado para a perda ponderal: orlistate, lorcaserina, fentermina/topiramato, bupropiona/naltrexona e liraglutida, um agonista dos receptores análogos do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1, sigla do inglês Glucagon-Like Peptide 1) por injeção subcutânea aprovado inicialmente para o diabetes tipo 2, mas subsequentemente aprovado para a obesidade.
E, quando usado em adolescentes (sem indicação da FDA), a metformina diminui o IMC em cerca de 1,2 kg/m2 em 6 a 12 meses e o agonista dos receptores GLP-1, exenatida, diminui o IMC de 1,1 kg/m2 a 1,7 kg/m2 em três meses.
De modo semelhante, a utilização de anticonvulsivantes para os adolescentes (topiramato e zonisamida) diminui o IMC em cerca de 1,3 kg/m2 a 4,1 kg/m2 em seis meses; o hormônio do crescimento diminui a massa gorda na síndrome de Prader-Willi; e a octreotida pode estabilizar o peso na obesidade hipotalâmica.
Além disso, três medicamentos aprovados para adultos estão sendo estudados atualmente em ensaios clínicos com adolescentes: a lorcaserina 20 mg/dia está sendo estudada em um ensaio clínico randomizado controlado de 52 semanas com participantes dos 12 aos 17 anos de idade; a associação fentermina/topiramato está sendo estudada em um ensaio clínico randomizado controlado de fase 4 de 56 semanas com participantes dos 12 aos 16 anos de idade; e a liraglutida está sendo estudada em um ensaio clínico de 56 semanas com participantes dos 12 aos 17 anos de idade.
E, no futuro, poderá haver a associação de medicamentos, de modo a permitir a dose mais baixa de duas substâncias com diferentes mecanismos, o que pode atenuar os efeitos colaterais, disse o Dr. Daniel.
Os medicamentos experimentais mais novos são as substâncias de ação central, as direcionadas aos hormônios intestinais e à incretina, os análogos da leptina e os análogos de dupla ação nos receptores GLP-1 e no glucagon.
Entrementes, o Dr. Andrew explicou que o número de "dispositivos, técnicas de e profissionais capacitados está crescendo para atender à demanda da pandemia de obesidade", e há fortes evidências de nível 1 que o tratamento bariátrico endoscópico pode ajudar os pacientes a obter uma perda ponderal significativa e melhora metabólica.
Estes dispositivos são seguros e eficazes, e o procedimento pode ser repetido.
Os balões intragástricos já aprovados pela FDA são Orbera, Reshape (um sistema duplo de balão) e Obalon (balão contendo gás que é ingerido), que retardam o esvaziamento gástrico e precisam ser removidos após seis meses.
Está sendo feito um ensaio clínico de aprovação para a FDA com um balão gástrico experimental que pode permanecer no local durante 12 meses, indicou Dr. Andrew.
A FDA já aprovou a gastrectomia vertical endoscópica, um tipo de remodelamento gástrico que, de acordo com o Dr. Andrew, "provavelmente é a técnica endoscópica mais instigante e promissora", que remodela o estômago até ficar do tamanho de uma banana, de modo semelhante à gastrectomia vertical bariátrica, mas por meio de um procedimento minimamente invasivo.
Outro tipo de remodelamento gástrico, a cirurgia de obesidade primária endoluminal (POSE, sigla do inglês, Primary Obesity Surgery Endolumenal), ainda não foi aprovado. O tratamento de aspiração, por outro lado, foi aprovado pela FDA.
E a FDA aprovou recentemente a Gelesis100, em cápsulas de hidrogel, acrescentou a Dra. Amy, como informado anteriormente. "Vamos ver nos dados pós-comercialização como as coisas se passam", observou a médica.
"A grande questão", disse o Dr. Andrew, "é como combinar os dispositivos endoscópicos com os medicamentos para alcançar os níveis de perda ponderal da cirurgia bariátrica".
Até mais.
Fonte: Mais medicamentos à vista para combater a obesidade na adolescência, e depois virão os dispositivos - Medscape - 25 de junho de 2019.
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