Dieta Cetogênica em diabetes...

Hoje eu gostaria de fazer um balanço da importância da dieta cetogênica para o tratamento do diabetes e da obesidade. Essa é uma questão que adquiriu mais importância nos últimos anos, e me parece que ainda mais nos últimos meses. Por um lado, vemos depoimentos, como os dos pacientes na consulta; muitos dos meus pacientes adotam espontaneamente a dieta cetogênica, com resultados geralmente espetaculares em termos de níveis da hemoglobina glicada e peso. Por outro lado, agora vemos muitos artigos sobre o assunto na grande imprensa.

Rapidamente, o que é a dieta cetogênica? É uma dieta com baixíssima ingestão de carboidratos – chegamos a menos de 50 g de carboidratos por dia, praticamente sem carboidratos na dieta – e a ingestão de proteínas é relativamente limitada. A alimentação diária se baseia sobretudo em gorduras.

É justificável prescrever a dieta cetogênica para os pacientes com diabetes e/ou obesidade? A literatura científica foi enriquecida e existem alguns periódicos, algumas metanálises, e eu darei a você aqui, rapidamente, as principais conclusões:

• Primeiro, com relação ao efeito no peso, a dieta cetogênica faz perder peso? A resposta é sim – a dieta cetogênica emagrece. Agora, é claro, essa declaração precisa ser ponderada com algumas observações. De acordo com a metanálise, em médio prazo não é melhor do que outras dietas restritivas, especialmente as pobres em carboidratos, como as dietas proteicas. Também não há dados em longo prazo – quero ressaltar, não existe nenhum dado – avaliando o valor da dieta cetogênica em comparação com outras dietas restritivas em termos do efeito no peso. Além disso, uma observação (e essa vem da experiência clínica, da observação daqueles que se fazem essa dieta): apenas uma minoria, apenas alguns por cento dos pacientes, mantém a dieta cetogênica por mais de alguns meses, algumas semanas ou até alguns dias. Por fim, precisamos falar sobre os riscos desse tipo de dieta, que estão longe de não existir: são mencionados os riscos cardíacos, que podem estar relacionados com a deficiência de selênio, o risco de nefrolitíase, de deficiências de vitamina e minerais ou ainda o risco de pancreatite.
• Segunda pergunta: a dieta cetogênica é eficaz na redução da hemoglobina glicada para melhorar o equilíbrio glicêmico? A resposta aqui é novamente sim. A dieta cetogênica tem um efeito espetacular nos níveis da hemoglobina glicada. É uma experiência que você pode ter tido com seus pacientes, e foi confirmada por trabalhos científicos. Temos pacientes que dizem: "Encontrei a solução para o meu diabetes." Eles passaram de 8% ou 9% da hemoglobina glicada para 6% ou 7%. E eles dizem: "a solução é remover os carboidratos. Eu descobri: é a dieta cetogênica". Então, devemos pensar nisso? Antes de mais nada é preciso perguntar: A dieta cetogênica é realmente eficaz ou é apenas um efeito da grande restrição calórica? Novamente, temos a resposta com uma metanálise de ensaios clínicos randomizados ^[1] que respalda a segunda hipótese, a saber, que é principalmente a dieta restritiva que está envolvida na melhora do equilíbrio glicêmico, a perda de peso e não é específica da dieta cetogênica.

Em suma, do meu ponto de vista, até prova em contrário, creio que, em termos de obesidade e diabetes, em qualquer caso, a dieta cetogênica não faz mais milagres do que qualquer outra dieta restritiva com perda ponderal. Portanto, na prática, quando estamos atendendo o paciente, eu diria que existem três casos:

• O paciente adota esse tipo de dieta em longo prazo, quando não conseguiu manter uma dieta balanceada. Já tive pacientes assim, que até disseram que, graças a essa dieta, eles têm a impressão de comer o que gostam, enquanto antes se sentiam frustrados. Nesse caso, eu deixo o paciente continuar a dieta, com algumas precauções: Suplementação de vitaminas e sais minerais e hidratação abundante. E, quando um paciente pergunta se pode continuar em médio ou longo prazo, eu tenho vontade de dizer: Se foi a dieta mais eficaz e as devidas precauções estiverem sendo tomadas, por que não?
• O paciente pergunta se pode tentar fazer esta dieta. Não tenho motivos para desencorajá-lo a tentar – e, de qualquer maneira, ele vai tentar, quer eu concorde ou não.
• Se o paciente perguntar que tipo de dieta recomendamos, não se justifica incentivar a fazer a dieta cetogênica para o tratamento do diabetes e da obesidade.

Até mais.

Fonte:  Dieta cetogênica: Devemos recomendar? - Medscape - 27 de novembro de 2019.