Pesquisadores vão infectar com o zika vírus fêmeas de camundongos prenhas para investigar se o vírus tem mesmo relação com o desenvolvimento da microcefalia, como suspeita o Ministério da Saúde. O estudo está sendo desenvolvido pela Fiocruz e deve ser realizado no início do próximo ano em Pernambuco, onde 268 casos de microcefalia já foram notificados neste ano. Será a primeira vez que animais serão expostos ao vírus no Brasil.
“Vamos inocular as fêmeas de camundongos prenhas com o zika vírus, imitando o que se pensa que está acontecendo com essas mães que tiveram bebês microcefálicos. Vamos acompanhar esse e outro grupo de fêmeas não infectadas para observar as taxas de microcefalia e outras mutações congênitas”, revelou o pesquisador Lindomar Pena, explicando que o estudo pode trazer um indício para esta relação caso o grupo infectado apresente uma taxa maior de mutações.
Pena contou que já investiga, com mais 14 pesquisadores pernambucanos, a melhor forma de diagnosticar o zika nos animais. Depois disso, será feita a inoculação. “Temos pouquíssima informação sobre o zika. Então, é tudo muito novo neste experimento”, explica, lembrando que o zika só foi descoberto em 1947.
Depois disso, ele só teria sido inserido em animais com fins de estudo na década de 1970, nos Estados Unidos. “Foram feitos experimentos intracerebrais e observaram que o zika causa doença neurológica. Mas são estudos antigos. Vamos repeti-los porque, desde então, o vírus já mudou muito”, diz, lembrando que a ênfase na microcefalia também não fez parte do estudo norte-americano.
Os pernambucanos ainda vão inovar na forma de inserção do zika nos animais, imitando a infecção humana. “Na década de 1970, ele foi inserido no cérebro, que é uma via artificial, porque quando o mosquito pica a pessoa, ele não pica o cérebro. Nós vamos mimetizar a infecção natural, que é a via subcutânea”, revela.
Humanos
Além de trabalhar com camundongos, os pesquisadores da Fiocruz de Pernambuco desenvolveram duas frentes de estudo sobre a relação entre o zika e a microcefalia com humanos. Eles vão investigar a gestação dos bebês recentemente nascidos com a má-formação e acompanhar a gravidez de mulheres que foram infectadas por doenças infecciosas como o zika. A Fiocruz ainda tenta desenvolver vacinas e meios de diagnóstico mais rápidos contra o zika virús.
“Com essas três frentes, conseguiremos um estudo probatório muito forte, comprovando ou refutando essa hipótese de que o zika esteja relacionado com a microcefalia. Estamos somando evidências, fazendo o procedimento padrão da descoberta da relação causa-efeito das doenças infecciosas”, explica o pesquisador Lindomar Pena, afirmando que a etiologia do HIV, ou seja, o estudo que determina as causas do HIV, seguiu o mesmo processo.
O pesquisador conta que, para a realização desses estudos, também serão formados grupos de mães e de bebês. O primeiro vai comparar a gestação de mulheres que tiveram bebês microcefálicos e a das que tiveram filhos sem má-formações. O sangue delas será coletado para que seja investigada a incidência do zika vírus. Caso as mães e os médicos autorizem, os pesquisadores também pretendem colher e analisar o líquido cefalorraquidiano (LCR) dos recém-nascidos, que é retirado da medula óssea.
Na outra frente de estudo, mulheres grávidas que tiveram sintomas de doenças virais, como manchas vermelhas na pele, serão acompanhadas até o parto. A intenção é observar a taxa de microcefalia entre as que tiveram o zika vírus e as que não tiveram. Caso elas permitam, os pesquisadores também vão colher e analisar líquido amniótico.
Até mais.
Fonte: G1.com
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