CARTA ABERTA AOS MÉDICOS:
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)
convocam os médicos a recomendar fortemente às suas pacientes a
vacinação contra o HPV.
A cada ano, cerca de 5 mil mulheres brasileiras morrem de câncer do colo
do útero. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são cerca de 15
mil novos casos anuais -- praticamente 100% causados pelo
Papilomavírus Humano (HPV).
A vacina HPV oferece prevenção efetiva contra o câncer. Existe vacina segura e eficaz disponível gratuitamente nas Unidades
Básicas de Saúde para as nossas meninas de 9 a 13 anos. No entanto, as
coberturas vacinais estão baixas, apesar das robustas evidências de
eficácia e segurança.
Sabemos que a prescrição médica pode mudar essa realidade. Estudos
recentes mostram que um paciente que recebe recomendação de seu
médico é 4 a 5 vezes mais propenso a se vacinar 2,3.
O que você diz e como você diz importa muito. Uma recomendação
hesitante, vaga ou sem robustez pode levar o paciente a acreditar que a
vacina HPV não é tão importante quanto as outras.
As sociedades médicas aqui representadas esperam que esse
documento, que apresenta os principais pontos e evidencias científicas
sobre a epidemiologia da doença, eficácia e segurança da vacina, possam
contribuir para o embasamento necessário para que a vacina HPV seja
recomendada por você.
Doenças associadas ao HPV
- De 12,7 milhões de novos cânceres em homens e mulheres em todo mundo, 610 mil (~5%) são atribuíveis ao HPV.
- Os HPVs são causa de câncer em vários sítios anatômicos. Segundo o CDC, eles respondem por 100% dos casos de câncer do colo do útero; 91% dos casos de câncer anal; 75% dos casos de câncer de vagina; 72% dos casos de câncer de orofaringe; 69% dos casos de câncer vulvar; 63% dos casos de câncer de pênis.
- O Câncer cervical é o terceiro tipo mais comum entre as mulheres brasileiras.
Vacinas - prevenção das doenças associadas ao HPV
Existem duas vacinas HPV disponíveis no Brasil, elas foram
desenvolvidas para prevenir o câncer do colo do útero. É possível que sejam eficazes também na prevenção de outros
tipos de câncer relacionados aos HPVs. A vacina quadrivalente também protege do câncer de vulva e
vagina e das verrugas genitais.
As sociedades médicas recomendam fortemente a vacinação
prioritária de meninas a partir dos 9 anos. O Ministério da Saúde disponibiliza a vacina HPV 6,11,16 18 para
meninas de 9 a 13 anos. Apesar das recomendações e da disponibilidade da vacina
gratuita nas Unidades Básicas de Saúde, nossas coberturas
vacinais ainda são baixas. Em 2014, a cobertura vacinal da primeira dose foi de 100%.
Contudo, apenas 60,4% receberam a segunda dose até
24/08/15. Outro fato preocupante: também até a data, apenas
49,63%, de nossas meninas com idade entre 9 e 13 anos
receberam a primeira dose.
Eficácia das vacinas HPV
Em mulheres não previamente infectadas, ambas as vacinas
apresentam mais de 95% de eficácia na prevenção de lesões
precursoras do câncer cervical causadas pelos HPVs 16,18.
Em mulheres, a vacina HPV 6, 11, 16, 18 demonstra quase 100% de
eficácia na prevenção de lesões precursoras de câncer de vulva e
vagina causadas pelos HPVs 16,18, e de verrugas genitais causadas
pelos HPVs 6,11.
A vacina HPV16,18 demonstra eficácia clínica em prevenir infecções
persistentes causadas por HPVs 16, 18, 31 e 45 e lesões causadas
por HPVs tipos 16 e 18, as quais podem evoluir para câncer de colo
de útero.
Ambas as vacinas mostram que a imunogenicidade é cerca de duas
a três vezes maior em mulheres jovens, com menos de 15 anos.
Estudos demonstram que o esquema de duas doses da vacina para
essa faixa etária é tão imunogênico quanto o de três doses nas
mais velhas. mais velhas.
7 Por esse motivo, esquemas de doses estendidos,
como o adotado pelo Brasil, e até mesmo de duas doses foram
adotados para meninas com menos de 15 anos.
A vacina HPV6,11,16,18, adotada pelo Programa Nacional de
Imunizações (PNI), está inserida em 62 programas públicos de
vacinação em todo mundo e os resultados de eficácia já podem ser
observados.
Na Austrália, onde a vacina HPV 6,11,16 18 é oferecida para meninas
de 12 a 26 anos, observam-se, desde 2007, os seguintes
resultados8,9
:
o As verrugas genitais tornaram-se raras nas mulheres e nos
homens heterossexuais australianos sete anos após a
introdução da vacinação contra HPV (redução de 18,4% para
1,1% nas mulheres < 21 anos; de 11,3% para 2,8% nos
homens < 21 anos. Houve redução mínima entre homens
que fazem sexo com outros homens e nos homens > 32
anos. Entre as mulheres com mais de 32 anos passou de
4,0% para 8,5%). Diante do fato de que as vacinas não protegem da infecção
causada por todos os tipos de HPV, ela não substitui outras
estratégias de prevenção, como o rastreamento do câncer
cervical com o Papanicolaou.
Segurança das vacinas HPV
As vacinas estão licenciadas desde 2006 (HPV 6,11,16,18) e
2007(HPV 16,18). A vacina HPV6,11,16,18, disponível para as meninas na rede pública
brasileira, também é utilizada em 133 países, sendo que 62 deles
oferecem a vacinação gratuita contra o HPV. Mais de 175 milhões de doses das vacinas HPV foram aplicadas no
mundo, desde 2006. Estima-se que em 2014, 44 milhões de mulheres em todo mundo
receberam o esquema completo de três doses em programas
nacionais de imunização -- 30 milhões delas em países
desenvolvidos e 14 milhões em países em desenvolvimento. Síncope pode ocorrer entre adolescentes que recebem vacinas,
incluindo a vacina HPV. O comportamento dos jovens é, com frequência, influenciado pelo
grupo com o qual se identifica, sejam amigos ou colegas de escola;
por essa razão, muitos relatos de alterações comportamentais
associadas à vacinação têm sido descritos independentemente de
questões culturais ou socioeconômicas. Desde os anos 90,
episódios de transtornos psicogênicos em massa (MPI, do inglês
mass psychogenic illness) após a vacinação são descritos na
literatura 11,12,13
. Mundialmente, o Global Advisory Committee on Vaccine Safety
(GAVCS) monitora todas as vacinas, incluindo a vacina HPV 6,11,16,18.
Em 2014, o relatório da GACVS afirma não ter havido ocorrência
que pudesse afetar a segurança ou as recomendações atuais para
o uso da vacina. O comitê continua confirmando o bom perfil de
seguranças da vacina HPV quadrivalente, hoje disponível na rede
pública brasileira
Até mais.
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