O Ministério da Saúde entregou esta semana para secretarias estaduais de Saúde lotes de miglustate, um novo medicamento para tratamento de pacientes com a doença de Gaucher, uma disfunção genética rara que, se não tratada, pode levar à morte. O remédio registrado pela empresa Actelon, será suficiente para terapia de 60 pessoas ao longo de um ano - o equivalente a 10% dos pacientes em tratamento no País. O valor da compra foi de R$ 10 milhões.
A remessa ocorre em um momento de desabastecimento de drogas usadas no tratamento dos pacientes. O problema se agravou ano passado, depois de a empresa ganhadora de licitação, a Genzyme, informar que não teria condições de arcar com a demanda prevista pelo governo. O déficit deste remédio, calculado em novembro, era de 2.022 frascos mensais - quase metade da demanda mensal. Pacientes que usavam a droga tiveram de migrar para outro tratamento ou tiveram a dose da terapia reduzida.
Ao mesmo tempo, um outro medicamento, taliglucerase alfa, da Pfizer, usado por outra parte de pacientes, comprado dois anos antes terá de ser trocado porque o prazo de validade termina em julho: 12 mil frascos serão substituídos. Outros 17 mil serão devolvidos e o dinheiro, ressarcido. "O que existe é uma grande confusão nesse sistema de compras. Remédios comprados sem necessidade. Não sabemos, por exemplo, quantos pacientes têm de fato necessidade do miglustate. Onde estão os estudos?", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Portadores da Doença de Gaucher e outras Doenças Raras, Pedro Carlos Stelian.
Ele afirma que outra droga existente - que poderia ser usada com segurança por pacientes que agora enfrentam racionamento - está disponível mas o governo não negocia a compra do alfaglicerase. O gerente geral da Shire, Carlos Santos, empresa fabricante do remédio, afirma que informou ao governo que não havia condições de fornecer a droga ano passado. "Naquela época, dissemos que este ano o fornecimento poderia ser feito".
De acordo com Santos, em uma reunião em janeiro o governo manifestou interesse na compra de 3 mil frascos mensais. Mas, em março, numa nova reunião, o Ministério informou que a compra não precisaria mais ser feita. "Enquanto isso, pacientes vivem às voltas com problemas provocados pela redução do medicamento", disse Stelian. "Não precisa ser especialista para imaginar os efeitos de uma terapia ser, de uma hora para outra, reduzida a praticamente metade", completou o presidente da associação. O Ministério afirma que a mudança na forma do tratamento segue a literatura médica mundial sobre a doença e que a redução das prescrições foi uma medida cautelar para garantir o abastecimento para todos portadores da doença.
Até mais.
Fonte: Atribuna.
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