Níveis de colesterol permanecem elevados apesar da reposição de T4 no hipotireoidismo...

Pacientes que tratam hipotireoidismo com a terapia convencional de reposição de levotiroxina (LT4) muitas vezes continuam com alterações dos níveis de colesterol, apesar da normalização do hormônio estimulador da tireoide (TSH, do inglês Thyroid Stimulating Hormone), de acordo com uma nova meta-análise recém-publicada on-line no periódico Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.
A lipoproteína de baixa densidade (LDL, do inglês Low-Density Lipoprotein) e o colesterol total (CT) séricos estão entre uma série de parâmetros considerados como marcadores objetivos de sinalização dos hormônios tireoidianos. Não se sabe se a normalização dos níveis séricos de TSH pelo tratamento com reposição de levotiroxina restabelece a sinalização universal dos hormônios tireoidianos.
"Já foi comprovado que o hipotireoidismo não tratado faz com que os níveis de colesterol sejam mais elevados", disse a primeira autora Dra. Elizabeth McAninch, professora-assistente na Divisão de Endocrinologia e Metabolismo do Rush University Medical Center, em Chicago, Illinois (EUA), em um comunicado à imprensa.
Agora, estes últimos resultados mostrando que "os pacientes que usam a reposição de levotiroxina tiveram níveis séricos de LDL e colesterol total significativamente mais elevados do que os controles saudáveis na meta-análise sugerem que a homeostase dos lipídios dependente de hormônios tireoidianos não foi restabelecida", concluíram a Dra. Elizabeth e coautores.
"Essas observações nos levam à conclusão que a terapia com levotiroxina pode, na verdade, não estar normalizando a função tireoidiana dessas pessoas", afirmou a Dra. Elizabeth.

Normalização do TSH pode não ser suficiente para restaurar inteiramente funcionamento da tireoide

Os pesquisadores explicam que a glândula tireoide saudável produz e secreta tanto a tiroxina (T4) quanto a triiodotironina (T3). A T4 é considerada um pró-hormônio porque tem menor afinidade pelo receptor do hormônio tireoidiano, enquanto a T3 é a forma ativa do hormônio tireoidiano.
O atual padrão de tratamento do hipotireoidismo, que acomete cerca de 5% da população dos EUA, é a reposição do hormônio tireoidiano T4 sintético, a levotiroxina, em doses que promovam a normalização dos níveis séricos de TSH.
Anteriormente acreditava-se que a monoterapia com reposição de levotiroxina em doses que normalizam o TSH deveria converter a tiroxina em T3 e manter a homeostase, porém esta estratégia foi questionada após observações de que (1) parte dos pacientes com hipotireoidismo tratados com reposição de levotiroxina (cerca de 20%) informa que os sinais e sintomas não desaparecem, apesar da normalização dos níveis séricos do TSH e; (2) a proporção de T4:T3 no soro de pacientes com hipotireoidismo tratados com reposição de levotiroxina é alta. De fato, muitos pacientes sem alívio suficiente dos sintomas apenas com reposição de levotiroxina dizem que também precisam de T3; a questão de associar ou não a T3 à T4 para os pacientes que não têm boa resposta a apenas T4 tem sido objeto de controvérsia nos últimos anos.
Nessa nova meta-análise, os pesquisadores da Rush University identificaram 99 estudos que corresponderam aos critérios da inclusão de pacientes com hipotireoidismo primário franco tratado com monoterapia com reposição de levotiroxina com a meta de alcançar a normalização dos níveis séricos de TSH. Dentre os estudos, 65 obtiveram dados sobre dosagem sérica de colesterol dos pacientes.
Os pacientes tratados com reposição de levotiroxina, apesar da normalização dos níveis séricos de TSH, tiveram níveis séricos significativamente mais altos de LDL em comparação com os controles saudáveis (3,31 ± 1,64 mg/dL; p = 0,044), bem como níveis séricos mais altos de colesterol total (9,60 ± 3,55 mg/dL; p = 0,007).
Dentre os estudos que não tiveram grupos de controle saudáveis, os níveis séricos de LDL foram significativamente ainda mais elevados nos pacientes tratados com reposição de levotiroxina em comparação com os valores normais de referência (138,3 ± 4,6 mg/dL; p< 0,001), bem como os de colesterol total (209,6 ± 3,4 mg/dL; p < 0,001).
Essas novas descobertas oferecem outros indícios sobre possíveis fatores subjacentes passíveis de explicar por que muitos pacientes referem continuar tendo os mesmos sinais e sintomas, como fadiga e ganho ponderal, apesar da normalização dos níveis de TSH com o tratamento com reposição de levotiroxina, disse a Dra. Elizabeth.
"Talvez as queixas subjetivas dos pacientes sejam sinal de que o esquema de reposição de hormônios tireoidianos possa não estar agindo como uma glândula tireoide funcional", disse a pesquisadora.
"Devemos escutar essas queixas comuns dos pacientes e elaborar mais pesquisas para explorar melhor por que isso está acontecendo".
Entre as teorias sobre a continuidade dos sintomas em alguns pacientes, existe a de que o TSH sérico pode não ser o melhor parâmetro para fazer as vezes de marcador ideal da função tireoidiana normal, e estudos em roedores mostraram que, de fato, a normalização dos níveis de TSH pode não restaurar outros marcadores de sinalização dos hormônios tireoidianos.
Limitações importantes da análise atual são a incapacidade de controlar alguns fatores, como a duração da reposição de levotiroxina e o uso de estatinas. No entanto, os autores observam que, com dois grandes estudos mostrando que mais pacientes tratados com LT4 também estavam tomando estatinas, a alteração dos níveis de LDL e colesterol total na análise poderia de fato estar sendo subestimada.
"Se nossos resultados forem replicados, e se esse grau de elevação dos níveis de colesterol sérico for clinicamente significativo, isso pode respaldar a necessidade de correção das diretrizes de conduta no hipotireoidismo e no controle de lipídios, de modo a abarcar o rastreamento do perfil lipídico e os limiares terapêuticos usados para tratar com reposição de levotiroxina os pacientes com hipotireoidismo franco", concluem Dra. Elizabeth e colaboradores.
Os autores do estudo receberam subsídios deNational Institutes of Health, National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, e National Institute on Aging. O coautor do estudo, Dr. Antonio Bianco, presta consultoria para Sentier Therapeutics. Os outros autores informaram não possuir conflitos de interesses relevantes. 
Até mais.
Fonte: www.medscape.com.br
J Clin Endo Metab. Publicado on-line em 15 de agosto de 2018.


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